Inflação e juros mais baixos também são fundamentais para aliviar a situação das famílias brasileiras
Uma sinalização de “âncora fiscal” por parte do governo, bem como inflação e juros mais baixos são fundamentais para aliviar o endividamento e a inadimplência das famílias brasileiras, que bateu recorde em 2022. A avaliação é do diretor de economia e inovação da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), Guilherme Mercês.
O levantamento mostrou patamares de endividamento e de inadimplência recordes em 2022. Na avaliação do economista, o endividamento e a inadimplência em patamares elevados podem persistir em 2023 se não houver ações na área macroeconômica pela nova gestão.
ara melhorar o atual cenário, o especialista defendeu combinação de medidas de curto prazo, com políticas macroeconômicas. No caso da âncora fiscal, uma sinalização do que seria o novo arcabouço conferiria mais segurança e visibilidade, no ambiente econômico, que poderia levar a efeito positivo em toda a economia, no entendimento dele.
No caso das ações de curto prazo, Mercês defendeu, de início, a implementação de um programa emergencial de renegociação de dívidas voltado para a população mais pobre, mais endividada e com dificuldades de arcar com os compromissos a longo prazo. De acordo com a Peic, duas em cada dez famílias com renda inferior a dez salários-mínimos por mês se c
“Você pode ter, sim, programas emergenciais para renegociação dessas dívidas com dificuldade de atraso prolongado e de renda mais baixa. Desenhar programas de caráter emergencial é fundamental para o problema não se estender”, disse.
Para Mercês, outras medidas que poderiam ser tomadas são aumento do salário-mínimo e atualização da Tabela do Imposto de Renda. Ambas são promessas de campanha do presidente Lula (PT), que estão em discussão pela equipe econômica e podem ser positivas para ajudar o brasileiro a arcar com suas dívidas.
“O aumento no emprego ou no salário-mínimo ajudam, assim como qualquer medida que mexe no que a gente chama de renda disponível, quando [o imposto] passa a abocanhar menos da renda que você tem disponível”, afirmou.
O economista ressaltou, no entanto, que a solução a longo prazo depende de medidas macroeconômicas, capazes de reduzir a taxa de juros, atualmente em 13,75% ao ano (taxa básica de juros – selic), e também da inflação, que estourou o teto da meta inflacionária pelo segundo ano consecutivo, em 2022, lembrou ele.
Na prática, com juros altos e inflação alta, o brasileiro conta com crédito mais caro e pouco espaço no orçamento – o que ajuda a elevar parcela de renda destinada a pagar dívidas e, por consequência, impulsiona endividamento, com perspectiva de piora em inadimplência
“Se a gente fala que o superendividamento é um problema para as famílias mais pobres, um caminho é a gente ter uma economia com juros mais civilizados”, afirmou.
Segundo ele, a definição de qual será a âncora fiscal adotada pelo terceiro governo Lula pode ser uma importante sinalização para o mercado e aliviar a pressão dos juros e da inflação sobre o consumo das famílias. “Agora, [o governo] tem o desafio de sinalizar a nova âncora fiscal, o que é um ótimo exemplo para que a gente tenha juros mais moderado