Puxada por serviços e indústria, economia cresce 0,9% no período
Após o forte crescimento no início do ano, a economia brasileira reduziu o ritmo no segundo trimestre, mas, ainda assim surpreendeu positivamente. O Produto Interno Bruto (PIB, valor de todos os bens e serviços produzidos no país) cresceu 0,9% ante o primeiro trimestre, abaixo do avanço de 1,8% registrado nos três primeiros meses do ano, informou ontem o IBGE.
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O crescimento foi surpreendente porque as projeções de analistas do mercado financeiro apontavam para um avanço mais tímido, de 0,3%. O desempenho acima do esperado desencadeou uma nova rodada de revisões para cima nas projeções para o crescimento econômico deste ano, que passaram a girar em torno de 3% sobre 2022.
Se confirmado, o crescimento ficará acima até mesmo das projeções atuais do governo. O Ministério do Planejamento e Orçamento informou que já revisou a projeção de crescimento anual para 3% . O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, comemorou:
— Surpreendeu positivamente. O crescimento do PIB deve atingir a marca de 3%, estamos com uma expectativa melhor que em janeiro. A gente fica feliz que as projeções do início do ano, feitas pelo ministério, de 2%, estão sendo superadas.
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Apesar do otimismo, Haddad afirmou que o terceiro trimestre merece atenção. Segundo o ministro, o governo precisa estar preparado para reagir com medidas, caso a economia desacelere.
— Estamos olhando os dados do terceiro trimestre para ver quais as medidas necessárias para não deixar uma eventual desaceleração afetar os dados da economia neste ano e no ano que vem — completou Haddad.
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Medidas ajudam consumo
Segundo o IBGE, medidas como a manutenção do valor mais elevado para o Bolsa Família, o reajuste do salário mínimo e a continuidade da redução de tributos sobre os combustíveis ajudaram a impulsionar o crescimento de 0,9% no consumo das famílias ante o primeiro trimestre.
O bom desempenho do mercado de trabalho — em julho, a taxa de desemprego recuou para o menor nível para o período desde 2014 — e o alívio da inflação também contribuíram.
— O mercado de trabalho continuou com bom desempenho, a inflação deu uma arrefecida também, apesar dos juros altos e do endividamento das famílias. Tivemos ainda medidas governamentais que ajudaram no consumo das famílias, como alguns incentivos fiscais — disse coordenadora de Contas Nacionais do IBGE, Rebeca Palis.
No lado da oferta, a economia foi puxada pelo bom desempenho dos serviços (0,6%) e da indústria (0,9%). Como as atividades de serviços respondem por quase 70% da economia do país, o resultado do setor influencia mais o avanço do PIB.
Governo Lula em imagens
Nos serviços, puxaram a alta os serviços financeiros — destaque para os prestados por seguradoras, como seguro de vida, automóvel e patrimônio, segundo Rebeca —, além de atividades para empresas, como contabilidade e engenharia, e os transportes, com ênfase em carga.
O movimento de cargas foi impulsionado pelo escoamento da supersafra de grãos para o mercado externo. No primeiro trimestre, o PIB da agropecuária tinha saltado 21% e, no segundo, caiu 0,9%, mas esse desempenho também surpreendeu. Analistas esperavam uma queda maior.
Na comparação com um ano antes, a agropecuária saltou 17%, mostrando a força do impulso das commodities (matérias-primas com cotação internacional) na economia — na indústria, o destaque foi a atividade extrativa-mineral, que inclui a exploração de petróleo e minério de ferro, com avanço de 1,8% sobre o primeiro trimestre.
Investimentos desapontam
De acordo com Natalia Cotarelli, economista do Itaú Unibanco, analistas estão tentando separar a agropecuária, que tem surpreendido e apresenta desempenho mais errático, do restante da economia. E, mesmo assim, o PIB mostrou força no segundo trimestre.
A atividade está resiliente e mais aquecida do que a gente estava projetando no início do ano. Boa parte desse crescimento mais forte no segundo trimestre foi fruto de um mercado de trabalho ainda forte e uma renda sustentada, com massa salarial e transferências do governo ajudando o consumo — disse Natalia.
O dado negativo foi o avanço de apenas 0,1% nos investimentos, na comparação com o primeiro trimestre. Em relação ao segundo trimestre de 2022, houve queda de 2,6%, acumulando um recuo de 0,9% no primeiro semestre.
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A economista do Itaú espera uma estagnação da economia nesta segunda metade do ano, o que já garantiria crescimento anual entre 2,8% e 3%, mas Guilherme Mercês, da consultoria Future Tank, acha que o consumo das famílias pode voltar a surpreender.
Natal mais aquecido
Nesse cenário, a continuidade de melhora do mercado de trabalho, um alívio no endividamento das famílias, por causa do programa de renegociação de dívidas Desenrola, e o início da redução dos juros pelo Banco Central (BC) favoreceriam o consumo.
— A recuperação do emprego, já sabida, soma-se à redução do juro, num ritmo de 0,5 ponto percentual, que dá uma sinalização, e acho que o Desenrola está tirando muita gente do vermelho, liberando orçamento de dividas para consumo — afirmou Mercês.
Para o economista, se essa demanda se mantiver, poderia puxar alguma recuperação dos investimentos em 2024. O problema está nas incertezas sobre o equilíbrio nas contas do governo. Se, para zerar o rombo fiscal, for necessária uma elevação exagerada da carga tributária, como sinalizam algumas medidas do Ministério da Fazenda, poderá reduzir o apetite das empresas por investir mais.
Para Sergio Vale, da economista-chefe da MB Associados, a queda dos juros deve se refletir em um Natal com consumo maior, e o mercado de trabalho segue resiliente, podendo encerrar o ano na menor taxa desde 2015:
— Ainda tem surpresas positivas que podem ajudar a economia como um todo. Estamos com uma economia mais forte. Imagino que a gente vai continuar vendo isso no segundo semestre, mas num ritmo talvez um pouco mais moderado.
O resultado do PIB influenciou positivamente o mercado, com o Ibovespa fechando em alta de 1,86%, aos 117.893 pontos. Já o dólar caiu 0,20% e encerrou a R$ 4,94. (Colaborou Vitor da Costa)